Verde desde a concepção |
16/08/11 |
Projeto da empresa brasileira Projemar, o super graneleiro ‘Vale Brasil’ representou grande desafio tecnológico
Bem antes de os primeiros rascunhos e cálculos estruturais serem executados, os projetistas do Vale Brasil, maior mineraleiro do mundo — com capacidade para transportar 400 mil toneladas, 362 metros de comprimento e 65 metros de largura — tinham um objetivo claro:
criar um “navio verde“. Segundo o engenheiro naval Tomazo Garzia Neto, presidente da Projemar — empresa contratada pela Vale para elaborar os projetos conceitual e básico da embarcação —, “desde o princípio o objetivo foi não só projetar um navio que atendesse aos requisitos de transporte da Vale, mas também privilegiasse os aspectos ambientais, como por exemplo uma menor emissão de gases poluentes, que utilizasse tintas anti-incrustantes livres de estanho e sem tanques de óleo combustível em contato com o costado do navio”.
Com orgulho, o engenheiro fala sobre o prêmio conquistado pelo Vale Brasil em Oslo, na Noruega, o Nor-Shipping Clean Ship Award, no dia 24 de maio. O mineraleiro competiu com outras embarcações pré-selecionadas pelo júri da Nor-Shipping. O Vale Brasil se destacou por reduzir em 35% as emissões de gases poluentes por tonelada de minério transportada, em relação a um navio convencional. A redução é possível graças à utilização de tecnologia de ponta nos equipamentos instalados no navio e ao privilégio que foi dado a eficiência energética da embarcação. Um dos principais eventos de navegação do mundo, a feira Nor-Shipping, é organizada pela Sociedade Naval Norueguesa. O júri responsável pela seleção dos candidatos e pela escolha dos vencedores inclui representantes da DNV, da Maritim 21, da Marintek, da Nor-Shipping e da Riviera Maritime Media.
A boa eficiência hidrodinâmica do casco do navio e a correta seleção dos equipamentos foram fundamentais, segundo o engenheiro, para alcançar a redução de gases poluentes emitidos. Para propulsão, foram selecionados motores de última geração com controle eletrônico (common-rail), que permitem controlar de forma mais eficiente a queima do combustível.
Para os projetos futuros de novas embarcações, há desafios ambientais a vencer. Eles estão associados principalmente aos motores de propulsão e de geração de energia elétrica, explica o presidente da Projemar, lembrando que será preciso atender às exigências da International Maritime Organization (IMO), entre elas a redução de óxidos nitrosos para o nível três e a redução de óxidos sulfurosos. Terão de ser encontradas soluções, diz ele, que não aumentem o custo de transporte, “pois será necessário instalar novos equipamentos, tais como catalisadores e, em certos casos, até a queima de gás natural liquefeito em vez de óleo combustível”.
Desafios. O supernavio da Vale iniciou a sua primeira viagem em direção à Taranto, na Itália, no fim de maio. “O Vale Brasil é uma realidade. Em sua primeira viagem já materializa os resultados em sustentabilidade e competitividade idealizados em seu projeto”, garante Fábio Brasileiro, diretor de Navegação da Vale.
Entre os desafios tecnológicos para conceber o Vale Brasil, o presidente da Projemar destaca que foi necessário analisar cuidadosamente cada detalhe. “Era preciso garantir que o navio percorresse a sua vida útil sem problemas. As dimensões dele são muito grandes. Essa estrutura robusta tinha de ser econômica. Nos preocupamos muito com as análises estruturais e de fadiga”, acrescenta Tomazo. Segundo ele, o navio tem estrutura para durar 30 anos.
Na elaboração do projeto, outra grande preocupação foi a de assegurar que a embarcação, apesar do porte, não tivesse a sua manobrabilidade prejudicada. Em função disso, o leme foi cuidadosamente projetado. O navio, portanto, foi idealizado para entrar em qualquer porto de grande porte do mundo.
Ainda do ponto de vista inovador, o Vale Brasil utiliza o sistema de single pass. “Foi usado o conceito de passe único em cada porão, no qual é possível carregar ou descarregar um porão de uma vez só. Isso permite que o navio fique menos tempo no porto. Em dois dias, é possível carregá-lo ou descarregá-lo. O Vale Brasil é o primeiro navio em operação com single pass. Os navios bauxiteiros da Log-In Logística Intermodal (empresa coligada à Vale, que tem encomendas de sete navios ao estaleiro Ilha S/A, Eisa) também têm esse conceito, mas as embarcações ainda estão em construção. O que se perseguiu foi fazer um navio que atendesse às necessidades de transporte de carga com eficiência”, explica Tomazo. Além disso, os projetistas tiveram que prever boas acomodações para a tripulação. Isso porque, como a viagem dura mais de 40 dias e o carregamento ou descarregamento é feito com muita rapidez, a tripulação deverá permanecer a bordo, sem desembarcar, por longos períodos.
Negócios. A economia de frete é mais um fator que conta pontos a favor do supernavio. “Em vez de transportarmos a carga em três embarcações com capacidade para 150 mil toneladas cada, usamos um só navio. Com isso reduzimos os custos por tonelada transportada. Gastamos menos com a construção dos navios, com a tripulação e com combustíveis”, assegura Tomazo.
Para os negócios da Vale, o supernavio também fará a diferença. Segundo o projetista, ele permite uma maior agilidade no porto e entre os portos, o que resulta em ganho de produtividade. “O Vale Brasil saiu de uma necessidade que a Vale tinha. Não é um navio de prateleira“, afirma o presidente da Projemar.
Na aquecida indústria naval brasileira, o Vale Brasil é o primeiro de sete navios encomendados pela empresa ao estaleiro sul-coreano Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering Co, com um investimento total de US$ 748 milhões. Outras 12 embarcações de 400 mil toneladas estão sendo construídas pelo estaleiro Rongsheng Shipbuilding and Heavy Industries, na China. Não haverá mudanças substanciais nesses próximos navios encomendados. “Só pequenas melhorias. Os conceitos básicos serão os mesmos“, diz Tomazo.
A expectativa da Vale é de que, com a nova frota de navios próprios e contratados, a empresa consiga diminuir a volatilidade no mercado de frete. Esta afeta os preços do próprio frete e também do minério. “À medida que os novos navios começarem a operar, a estabilidade do frete e do minério será ainda maior, favorecendo a Vale e seus clientes siderúrgicos“, diz o diretor executivo de marketing, vendas e estratégia, José Carlos Martins.
|
Fonte: Portos e Navios |
1 comentários:
Espero que esta possa ser uma nova era para a engenharia naval!
Postar um comentário