Sinaval: baixo custo para construir navio tem limite
No seu primeiro pronunciamento sobre o supernavio afretado à Vale que rachou enquanto embarcava minério de ferro, a entidade que representa a indústria naval brasileira diz que há limitações na redução de custos na construção de embarcações.
"O incidente demonstra que há lições a se aprender e que há um limite para a economia de custos em empreendimentos pioneiros e inovadores para garantir a operação segura", disse à Reuters, por e-mail, o presidente do Sinaval (Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore), Ariovaldo Rocha.
"O ocorrido com o navio da STX Pan Ocean demonstra que a construção de navios não é uma atividade trivial. Projeto, métodos construtivos e qualidade dos materiais são itens com grande impacto no desempenho de um navio", acrescenta ele, em resposta a questionamentos sobre o Vale Beijing.
O supercargueiro, que tinha acabado de ficar pronto, sofreu rachaduras no terminal de Ponta da Madeira, no Maranhão, no dia 3 de dezembro, enquanto embarcava sua primeira carga de minério de ferro.
Algumas fontes ouvidas pela Reuters, que pediram anonimato, disseram que o navio pode ter sido construído com aço de má qualidade, que não teria resistido ao peso da carga, prevista para alcançar quase toda a capacidade da embarcação, de 400 mil toneladas.
A STX Pan Ocean não retornou imediatamente a pedidos da Reuters para comentários sobre a redução de custos e qualidade do aço usado na construção do Vale Beijing.
O navio é um dos 35 supernavios da Vale para transporte de minério de ferro que a Vale está adicionando à sua frota como maneira de buscar reduzir custo com frete marítimo e o primeiro de oito supercargueiros que serão entregues pela empresa coreana até 2013 para transportar minério de ferro da Vale.
O conhecimento tecnológico, disse o Sinaval, tem permitido melhor avaliação do desempenho dos materiais, o que possibilita economias de custo de construção, mas que torna menores as margens de segurança.
Os supernavios da Vale estão sendo construídos em estaleiros da Coreia e China, países que constroem embarcações a preços mais baixos que a média mundial. Os coreanos são conhecidos por produzir embarcações modernas a preços competitivos.
O Sinaval defendeu estaleiros locais, que têm sido alvo de críticas por alguns analistas por produzirem mais lentamente e a um custo maior que os asiáticos.
"Os estaleiros brasileiros estão tecnicamente preparados para enfrentar esses desafios e construir navios e plataformas de petróleo para operar com grande segurança".
O custo de construção dos supernavios da Vale para cada tonelada de capacidade equivale a metade do valor gasto para se construir petroleiros da Petrobras, pelo estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco.
Cada supercargueiro da Vale com capacidade para transportar 400 mil toneladas de minério de ferro tem custo estimado médio de 150 milhões de dólares. São 375 dólares de investimento para cada tonelada transportada.
Dez navios da Petrobras tipo Suexmax, com capacidade para carregar cerca de 170 mil toneladas, com a metade do tamanho dos Valemax, foram encomendados ao estaleiro Atlântico Sul por 1,2 bilhão de dólares, média 120 milhões de dólares por unidade, segundo a Transpetro, subsidiária da Petrobras. São cerca de 765 dólares por tonelada de capacidade.
Floriano Pires, professor da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que o incidente com o navio da Vale pode em algum momento fazer construtores reverem os projetos de construção das embarcações, considerado um dos mais baratos do mundo.
Em comunicado na quarta-feira, a STX Pan Ocean afirmou que as outras sete embarcações do mesmo porte que serão afretadas à Vale estão sob análise.
O diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, diz que o problema do navio da Vale deve ser visto como um erro isolado e não compromete as demais encomendas feitas aos estaleiros mais competitivos.
"Não tem problema nenhum fazer navio no Brasil, mas acho que tem que criar primeiro tecnologia local", disse Pires.
O contrato de afretamento entre Vale e STX para os navios gigantes, fechado em 2009, é da ordem de 6 bilhões de dólares, segundo a empresa asiática.
A mineradora brasileira firmou contratos de arrendamento para um total de 16 navios gigantes, conhecidos no mercado como Valemax. Outros 19 navios gigantes foram encomendados para serem operados pela própria Vale, num total de 35 embarcações do mesmo porte.
O Sinaval pondera que "acidentes com navios acontecem".
"Os operadores de frotas e os estaleiros construtores sempre acompanham incidentes deste tipo para aprender e evitar que se repitam", diz a entidade.
Fonte: Reuters
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